Amyr Klink comemora os 30 anos de travessia do Atlântico em barco a remo
Você já imaginou cruzar o atlântico em um barco a remo? Se pra você a hipótese parece um absurdo, saiba que ela não só é possível, como já aconteceu.
Em 1984, o até então economista formando pela USP, e sem nenhum tipo de conhecimento de navegação, Amyr Klink, resolveu que era hora de realizar a primeira travessia solitária a remo no Atlântico Sul, em um percurso que iria da África a Salvador, em 100 dias.
Neste ano, no dia 18 de setembro, Klink completa 30 anos que desembarcou na capital baiana e marcou seu nome na história da navegação brasileira. A trajetória deu origem ao best-seller “Cem dias entre o céu e o mar”, que ficou durante 31 semanas na lista dos dez mais vendidos do país.
Mesmo sem ter nenhum tipo de conhecimento relacionado à área, Amyr já era um visionário. De acordo com ele, achar soluções para os problemas que seriam encontrados na travessia se tornou um hobby. “Quando estava construindo meu primeiro barco, notei que seria impossível cruzar o Atlântico, em que o mau tempo podia fazer com que as ondas chegassem a 20 metros, em um barco a remo, em que a única distância que tinha do mar eram alguns centímetros, sem que ele virasse. Por isso procurei a solução: fiz um barco “capotável”. Planejado para virar quantas vezes fosse, sem problemas”, explica Klink.
Até hoje, Amyr Klink foi o único a conseguir esse feito. “Achei que, depois de mim, inúmeros outros jovens tentariam, mas, até hoje, soube somente de dois. Um deles passou a vida toda esperando um patrocínio que nunca veio, e o outro já pensava na fama antes mesmo de construir o barco. Nenhum deles sequer iniciou o desafio” conta o navegador.
De acordo com Klink, conseguir esse feito hoje teria sido muito mais fácil. “Minha principal preocupação era como me alimentar sozinho durante os 100 dias. Tive que levar comida desidratada, frutas secas e pão enlatado, cozinhava tudo com a água do mar. Naquela época, esse tipo de alimento era impossível de achar, hoje, tem em todos os supermercados, um exemplo disso são as barras de cereais”, afirma.
A medição era outro problema enfrentado pelo navegador. Seu estoque era modesto: apenas antibióticos para infecções e anti-inflamatórios para dores de dente, e um alicate, que, em ultimo caso, seria usado para uma extração. “Hoje em dia, existem equipamentos portáteis, que medem várias funções corporais, e com conexão com a internet. É possível, através deles, inclusive fazer uma consulta no meio do oceano, e receber a orientação adequada do médico”, explica Klink.
De acordo com Amyr, viver 100 dias entre o céu e o mar foi a melhor coisa que já o aconteceu. “Perdi 25 quilos durante toda a travessia. Vivi a saudade, mas não a solidão. Todo o processo até conseguir iniciar a aventura foi tão complicado, que, quando eu entrei no mar, senti uma paz imensa. Finalmente era só eu e ele. E nunca tive medo de morrer, nunca pensei que pudesse dar errado. As pessoas acham que se morre no mar por falta de água, mas isso não é verdade. Em um naufrágio é possível sobreviver até 10 dias com água salgada, somente no décimo primeiro os rins começam a falhar. Apesar disso, a grande maioria das pessoas morre no 3º ou 4º dia, sabe por quê? Por causa do desespero. Nunca tive isso, e também nunca tive um plano B, caso tudo desse errado. Pensando bem, foi a ideia mais imbecil que alguém poderia ter”, afirma rindo.
Toda a experiência serviu para instigar o navegador a conhecer outros lugares. “Fiz uma expedição de quase dois anos entre a Antártica e o Ártico, em 1992. Em 98, fiz a primeira volta ao mundo solitária, realizada em águas de convergência Antártica, onde estão os mares mais perigosos. E em 2003, repeti o feito, só que agora com tripulação”, conta Amyr Klink.
Durante todo o mês de setembro, o feito dos 30 anos da primeira – e única – travessia a remo do Oceano Atlântico será comemorado. Entre os eventos já programados, está a exposição “Linha d’Água”, entre 8 de setembro e 2 de outubro, no Espaço Cultural Conjunto Nacional, em São Paulo. A mostra reúne fotografias do acervo de Amyr Klink, que realizou mais de 40 viagens oceânicas.
Fonte: Tribuna da Bahia
Por: Chayenne Guerreiro
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