A facilidade de comunicação é um atributo importante para líderes
O navegador mais conhecido do país e autor de cinco livros, o economista e pós-graduado em Administração Amyr Klink, estará em Brasília no próximo dia 28 de junho para falar sobre liderança e superação de desafios. O evento faz parte da programação do III Ciclo de Conferências promovido pela CNT, pela Escola do Transporte e pelo Sest Senat.
Amyr Klink ganhou fama pelas expedições realizadas principalmente para a Antártica, na maioria delas, em barcos que ele mesmo projetou. Nascido em São Paulo, casado e pai de três filhas, já compartilhou suas experiências em mais de 2.500 palestras em 13 países.
Em entrevista à Agência CNT de Notícias, o empreendedor destaca o carisma como peça fundamental para exercer uma boa liderança em corporações, além da necessidade de se compartilhar responsabilidades para ampliar o compromisso com resultados na empresa. Confira:
Na conferência que será realizada no auditório da CNT, no dia 28, o senhor vai abordar o tema Liderança e Superação de Desafios. Há como aprender a ser um líder? Existe receita para isso?
É uma característica que algumas pessoas têm em maior ou menor grau. É importante, mas acho que é uma coisa que pode ser desenvolvida também. Já trabalhei com várias pessoas que tinham essa característica e souberam colocar em prática. Em outras, é muito difícil. Ela pode ter todos os atributos, mas, na prática, não pode faltar o carisma. É com carisma que você desenvolve empatia com o grupo. E esse é um assunto que tem mudado com o tempo, pois algumas empresas tinham pessoas com liderança extremamente rígida, dura. Hoje há uma tendência de mudar isso.
Nos momentos mais difíceis, como saber a coisa certa a se fazer, saber liderar aquela situação para levá-la a um caminho positivo?
Eu não tenho uma receita para isso, mas acho que nos momentos de dificuldades você tem que arregaçar as mangas e atacar os problemas. O que eu percebo hoje nas empresas em que a gente tem trabalhado é que há uma espécie de compartilhamento de responsabilidades. A preocupação agora é que cada um faça não apenas sua obrigação, mas que se preocupe com o todo, com o conjunto de tarefas. Isso nem sempre é fácil. Normalmente, o sujeito que trabalha ali não está muito preocupado com o que acontece com a empresa, está mais preocupado com o aspecto pessoal dele. E essa visão nas grandes corporações mudou bastante. Com o empoderamento, o que você faz é, na verdade, criar uma relação de compromisso com resultados.
Os brasileiros se destacam cada vez mais no exterior. Para nós é mais fácil liderar?
O Brasil está num cenário muito especial nesse momento, com aquecimento econômico, e a gente vê uma mudança nas relações de trabalho, até porque as empresas são obrigadas a crescer, senão vão perder território. Mas a verdade é que pelas dificuldades que temos aqui, pela burocracia, restrição de créditos e tudo o mais, a gente tem, de certo modo, muito mais criatividade e competência para lidar com problemas do que um executivo europeu ou norte-americano, que está acostumado com certo grau de certeza e estabilidade que hoje já não existe mais.
O aspecto complicado é a nossa falta de qualificação, específica ou técnica. Mas, no nosso caso, acho que é um problema mais fácil de resolver. O brasileiro tem uma grande capacidade de aprender rápido. As pessoas que vão para fora, em pouco tempo, descobrem todas as artimanhas jurídicas, burocráticas, de relacionamento… Mas quando você tem um executivo de fora aqui, você percebe uma dificuldade muito grande dele para compreender problemas tributários e de se relacionar com níveis mais baixos ou hierarquicamente mais altos, por exemplo. Eu acho que o Brasil poderia ser uma grande escola de gestão se a gente se empenhasse mais em capacitar as pessoas tecnicamente.
Nossa capacidade de adaptação é melhor, então?
Eu não gosto de falar isso, mas é um atributo quase que natural nosso. Não é um mérito, e ocorre justamente porque a gente vive num país cheio de transformações. A gente, no Brasil, tem uma capacidade humana que é a facilidade de comunicação, o que é interessante. Já trabalhei na Alemanha, em toda a Europa, África, e lá é muito difícil ter isso. Por isso, essa facilidade de comunicação, principalmente, é um atributo importante para líderes. Isso ajuda a conhecer, a adquirir um reconhecimento lícito ou autêntico.
Em suas expedições, inclusive algumas solitárias, qual foi o maior desafio?
Temos que ter muito critério na hora de preparar o barco, o roteiro. Hoje em dia, há muitos complicadores novos, como a burocracia, licenciamentos, a situação mudou bastante. Quando você passa duas semanas com ondas de 20 metros de altura, há várias situações de perigo, mas não gosto de falar muito sobre isso.
Qual foi sua maior realização de vida até o momento? Por quê?
Uma delas foi, na verdade, uma brincadeira. No ano passado, fui fazer um domo geodésico (estrutura de formato esférico) em alumínio. Foi preciso montar uma estrutura grande. A história dos barcos é bacana, é uma coisa que eu faço com prazer. Mas fiquei muito feliz com essa experiência de construir uma estrutura esférica bem grande, com 17 metros de altura. Foi um exercício interessante de matemática, de coordenar, desenvolver as peças, diminuir o custo. Não é para alguma utilidade, foi mais o desafio mecânico e matemático, e que levou cerca de um ano para ser concluído.
O que o motiva em suas aventuras pelo mundo?
Na verdade, o grande motivador é o processo. Simplesmente ir de carona não é uma coisa que me anima. Mas quando você desenha o barco, cuida da construção, do transporte, da regularização, equipar, isso é uma experiência completa. Esse é o diferencial. Nas expedições que fiz para a Antártica, acredito que 38, em 22 fui em barcos que eu mesmo projetei. E a gente fica muito feliz em ver que quem atua na Antártica prefere o nosso barco.
Uma outra coisa bacana aconteceu com as minhas três filhas, que hoje têm entre 11 e 14 anos. Elas lançaram um livro (sobre o que passaram nas expedições que participaram conosco – Férias na Antártica -. Mais legal que completar uma volta ao mundo foi ver as meninas falando para outros alunos, em palestras que elas dão, sobre as experiências delas, com a visão de meio ambiente que possuem. Elas participaram de seis expedições, a primeira quando tinham entre 5 e 8 anos. E ver esse resultado é muito gratificante.
Aerton Guimarães
Fonte: Agência CNT de Notícias