“Gostaria de chutar a canela do ministro do Turismo”, diz o navegador Amyr Klink
Passados 30 anos, nunca mais ninguém se aventurou a cruzar da África ao Brasil remando uma embarcação de pouco mais de cinco metros.
O paulistano Amyr Klink foi o único e agora comemora três décadas do feito, que chama de ‘ousadia’, durante todo o mês de setembro. Para celebrar fará palestras e uma exposição no Conjunto Nacional, em São Paulo, com fotografias e a famosa canoa I.A.T. in loco, usada na travessia. “A ideia foi da Marina (Klink, sua mulher, que se tornou fotógrafa de suas aventuras) e tudo o que fazemos até hoje é por causa dessa viagem. Foi minha iniciação no mundo náutico”, diz Amyr, que remou por 100 dias entre Luderitz, na Namíbia, e a Praia da Espera, na Bahia, com direito a três capotamentos provocados por fortes correntes.
Depois da expedição solitária, o navegador não parou mais e, desde 1986, fez mais de 40 viagens, incluindo as incursões anuais à Antártica. Segundo o empreendedor, até hoje ninguém fez o mesmo percurso. “Existem três pessoas que querem fazer a mesma viagem em 2015. Dois brasileiros e um americano”, diz ele, um dos mais disputados palestrantes do país, fazendo mais de 120 palestras por ano, e escritor de best-seller, como Cem Dias entre o Céu e o Mar, que superou a marca de um milhão de exemplares.
É de São Paulo que ele comanda a empresa AKPP, Amyr Klink Planejamento e Pesquisa, que atende clientes de dentro e, principalmente, fora do país. “Até hoje construímos de 25 a 30 embarcações diferentes, todos os projetos são malucos e criamos nossos próprios instrumentos porque não fabricam o que precisamos por aqui. São embarcações anfíbias, barcos de resgate, veleiros rápidos, cidades flutuantes. No Brasil, só nosso escritório faz isso. Somso despreparados em alguns aspectos, mas muito criativos em outros. Alguns caras que conheci, que nem são alfabetizados, são verdadeiros gênios da engenharia”, afirma. Amyr também construiu a Marina do Engelho, em Paraty, Rio de Janeiro, um ancoradouro-modelo que abriga mais de 250 barcos, todos conectados à água potável e luz elétrica num corredor flutuante criado por ele. O local servirá, no futuro, de hospedaria para jovens interessados em realizar estudos náuticos, com bibliotecas e espaços culturais, além de oficinas para futuros navegadores.
Com experiência de sobra como navegador, Amy alia sua formação como economista e administrador de empresas e não se importa em apontar as falhas do setor. “Temos uma grande deficiência de profissionais da navegação, em todos os níveis. No Brasil só pode ser mestre de embarcação, com habilitação, quem faz Marinha por sete anos. É como se um taxista precisasse entrar no exército para dirigir seu veículo. Em Palma de Maiorca (Espanha), por exemplo, as marinas são responsáveis por R$ 14 bilhões do faturamento e são grandes geradoras de emprego. Aqui, não existe locação de embarcação por causa da deficiência legal. No Rio não existe uma empresa de locação e todos os barcos ficam ociosos nas marinas”, alerta.
Vale lembrar que na Europa, ao contrário daqui, barcos de luxo que são transformados em ativo turístico. “Gostaria de chutar a canela do ministro do Turismo, mostrar números e pedir regulamentação em vários órgãos. É um processo cabeludo, que depende de pressionar políticos e redigir leis. O Rio poderia lucrar R$ 20 bilhões em fretamento de embarcações, número que nenhuma hotelaria alcança. Estão construindo o Porto Maravilha, mas quem desenhou o projeto não pensou em marinas-bases para locação. A ignorância do mar permeia vários ramos como arquitetura e engenharia etc. O Porto, sem isso, é uma inutilidade urbanística. O Governo tem que fazer concessões para várias empresas privadas e estimular o turismo pelo mar. Era para termos de oito a nove mil barcos na água. Eles embelezam a cidade e geram empregos bem remunerados”, afirma.
Fonte: Náutica Total